Em dezembro de 2007, a premiação do melhor jogador do mundo teve Kaká como grande protagonista. Mais de 10 anos se passaram desde aquela cerimônia e nenhum jogador brasileiro reconquistou a honraria. Pensando no campeonato italiano, a relação entre atletas nascidos no Brasil e a própria competição nunca mais foi a mesma.
Ao longo da história, contudo, jogadores brasileiros e argentinos pontuaram a evolução do futebol na Itália de maneira determinante. Exemplos não faltam: Maradona no Napoli, Falcão na Roma, Ronaldo na Inter, Edmundo na Fiorentina, Toninho Cerezo na Sampdoria, Dida no Milan, entre tantos outros.
O problema é que, assim como a Serie A entrou em crise na transição da primeira para a segunda década do século 21, as estrelas do Brasil começaram a brilhar em outros campeonatos. Ou, no melhor dos casos, passaram a “utilizar” o torneio mais importante do futebol italiano como um trampolim para outras ligas.
Apesar do declínio, a relação perdurou mesmo em momentos de instabilidade. Tanto é que, ano após ano, os brasileiros que se destacam minimamente logo exercem o direito de obter a cidadania italiana para defender a Squadra Azzurra. Na temporada 2021-2022, foram três: João Pedro, do Cagliari; Rafael Tolói, da Atalanta; Luis Felipe, da Lazio.
No novo cenário que se apresentou, alguns bons valores nacionais passaram a desembarcar na Itália, mas por meio da Serie B. Uma vez mais utilizando a temporada passada como exemplo, ao menos dois jogadores brasileiros estiveram diretamente relacionados com o acesso à primeira divisão de Lecce e Monza.
Em menor proporção, é verdade, as evidências estão aí. Seja pela relação histórica entre público brasileiro e campeonato italiano, ou pela presença de jogadores daqui na Serie A, a transmissão das partidas segue firme no Brasil. Para 2022-2023, é bem arriscado projetar quem serão os melhores representantes verde e amarelo no calcio – algo até digno de palpites nos melhores sites de apostas -, mas mesmo com a janela de transferências ainda aberta, este artigo vai projetar o que de melhor o Brasil pode oferecer na próxima temporada do italiano.
Carlos Augusto
Da lista completa, o nome mais conhecido do torcedor brasileiro – em especial os de São Paulo – deve ser mesmo o de Carlos Augusto.
Quando o lateral (que na Itália se tornou terzino) confirmou sua saída do Corinthians para um time da Serie B da Itália, pouquíssima gente entendeu. Muitos o criticaram. Contudo, seu destino era o Monza, comandado pelos conhecidos Berlusconi e Galliani.
Na primeira temporada, o sonho do acesso foi adiado com uma queda inesperada nos playoffs. Em 2021-2022, todavia, Carlos Augusto ajudou os biancorossi a superarem o Pisa numa final dramática, uma vez mais nos playoffs.
O brasileiro já concedeu entrevista ao Golazzo e contou detalhes dos desafios da adaptação no novo clube, do clima, coisas que parecem já ter ficado no passado. Aos que ainda não entenderam sua transferência, o próprio já revelou que o objetivo do Monza é disputar a Champions League em questão de anos.
Confira:
Roger Ibañez
O nome Ibañez pode confundir, mas estamos falando de um zagueiro brasileiro, nascido em Canela, e que foi campeão na temporada 2021-2022. Em 2020, chegou à Roma por empréstimo e hoje integra o time titular da equipe que levou a taça da primeira edição da Conference League.
Com a chegada de José Mourinho, havia expectativa que o defensor ficasse em segundo plano numa disputa por titularidade com Smalling e Mancini. Entretanto, o técnico português passou a adotar um esquema com 3 zagueiros, que garantiu Ibañez entre os 11 iniciais até mesmo na final da Conference League contra o Feyenoord.
Para 2022-2023, o desafio será ainda maior. Com o título e a 6ª colocação na Serie A, a Roma se classificou para disputar a Europa League, onde estão os times do segundo escalão da Europa. A projeção é que Ibañez esteja mais uma vez nos momentos decisivos para os giallorossi. Em 2021-2022, ele jogou 34 de 38 partidas do campeonato italiano e entrou em campo em todas pela Conference League.
Junior Messias
Ele não é titular e pode até passar despercebido por alguns, mas Junior Messias tem uma das histórias mais interessantes dentre brasileiros no campeonato italiano. Em questão de 5 anos, o meia-atacante foi de duelos em divisões inferiores à Serie D para disputa de Champions League e campeão italiano com o Milan.
Revelado no Brasil pelo Cruzeiro, acabou partindo jovem para a Itália, mas não para jogar futebol logo de cara. Durante certo tempo, trabalhou em empregos triviais, como os imigrantes costumam trabalhar ao desembarcarem em outro país. Em um dos momentos de lazer com futebol, foi “descoberto”, notado e agarrou todas oportunidades surgidas, soltando-as somente para aceitar uma melhor.
Foi assim que pintou na Serie A pela primeira vez em 2019-2020 com o Crotone. Em uma temporada desesperadora para o time da Calábria, que acabou rebaixado, Junior Messias conseguiu fazer um ano brilhante. Tanto que, dois anos mais tarde, ele hoje celebra o título de campeão italiano, enquanto o Crotone já está na Serie C.
Ainda que não seja titular no time de Pioli, Junior Messias foi decisivo em diversas partidas na Serie A. Na pior das hipóteses, caso este artigo envelheça mal, o brasileiro seguramente permanecerá no campeonato italiano. Nisso, os jogadores do Fantacalcio podem acreditar.
Arthur Cabral
Arthur Cabral é outro nome bem reconhecido pelos torcedores brasileiros. Por aqui, embora contratado pelo Palmeiras em 2018, sua marca foi deixada com a camisa do Ceará. Aliás, boa parte dos seus fãs continuam emitindo críticas sobre como o atacante foi tratado pelo alviverde de São Paulo. O motivo são as pouquíssimas vezes que Cabral acabou escalado no Palmeiras. Para muitos, o clube o contratou para deixá-lo encostado.
De 2020 a 2022, Arthur Cabral disputou jogos com a camisa do Basel. Na Suíça, ainda que não em nível máximo do futebol europeu, reencontrou a ótima forma a ponto de se tornar o melhor jogador da liga. Foi assim que chegou na Fiorentina.
Em Florença, todavia, as coisas não começaram bem. Com a saída de Vlahovic para a Juventus (então artilheiro máximo da viola) em dezembro de 2021, Cabral e Piatek chegaram para se revezar e tentar ocupar a função do 9 no restante da temporada, mas sem muito sucesso.
Uma coisa é preciso ser dita: ficou explícita a forma como o time de Vincenzo Italiano tinha enorme dificuldades para “encontrar” Cabral e Piatek em campo. O que deve mudar com uma preparação completa antes da temporada começar.
Aliás, caso a Fiorentina não prolongue o empréstimo de Piatek, o atacante brasileiro deve ser a única e principal opção na função de bomber. Vale lembrar que a temporada reserva jogos do campeonato italiano, Copa Itália e Conference League.
Gleison Bremer
O caso de Gleison Bremer tem duas óticas de análise bem opostas uma da outra. Por um lado, é fácil entender sua menção aqui. A qualidade indiscutível do zagueiro o levou para a Seleção Golazzo do campeonato italiano 2021-2022:
Por outro lado, embora elogiado por companheiros e rivais, técnicos e jornalistas, depois de até mesmo ser eleito um dos MVPs da Serie A 2021-2022, Bremer continua ignorado por Tite, técnico da seleção brasileira. Não é nem preciso dizer que os italianos já estão de olho na sua naturalização.
De todos os brasileiros que vão disputar a próxima temporada do campeonato italiano, listar o nome de Bremer é o mais arriscado. Não pela qualidade, pois o topo do ranking pertence a ele, mas pela enorme possibilidade de ele partir para outra liga.
Até o fechamento deste artigo, ele ainda pertencia ao Torino. Contudo, nas imagens da última aparição pelo time granata, na última rodada da Serie A, o clima já era de despedida. Tanto que o próprio José Mourinho foi visto explicitamente convidando Bremer para jogar na Roma. Há quem diga que a Inter, contudo, seja a favorita para contratá-lo.
Certo mesmo é que Bremer foi o melhor jogador brasileiro do campeonato italiano passado e tem tudo para repetir a dose. Esperamos.
Jornalista e admirador de quase tudo que venha da Itália – especialmente gols e comida. Jamais identificado com a cobertura do campeonato italiano, fundou o Golazzo para noticiar, entrevistar e opinar sobre o calcio.