Para elaborar uma relação com os maiores jogadores do Cagliari na história é preciso consultar aquela que foi a campanha mais vitoriosa do clube. Mas não apenas isso. Sim, o scudetto de 1969-1970 representa até hoje o momento máximo na cronografia do rossoblù, contudo outros atletas atingiram feitos que ficaram na memória do torcedor, ainda que em momentos não muito virtuosos.
Ao contrário dos grandes campeões do campeonato italiano, o Cagliari possui até hoje apenas um título da principal competição nacional – exatamente o já mencionado. Ainda que principal representante da Ilha da Sardegna (veja aqui no mapa), justamente por estar fora das mais notórias regiões centro e norte, o rossoblù desenvolveu idolatria a jogadores de modos distintos e bem particulares.
Apesar disso, não há mistério em já apontar que Gigi Riva é o maior jogador da história do Cagliari. Afinal, estamos falando do jogador que, entre tantas coisas, é o goleador máximo da seleção italiana e um dos principais na história do campeonato italiano.
Mesmo “isolado” na Ilha da Sardegna, que flutua no mapa italiano ao lado da “bota”, o Cagliari superou os anos distantes da primeira divisão e escreveu capítulos importantes na história do calcio. O próprio clube já deu aos seus torcedores o poder de escolher os 11 melhores de todos os tempos, que destacou alguns nomes que entraram em campo em período distante do histórico scudetto.
Os maiores jogadores do Cagliari são:
- Gigi Riva
- Daniele Conti
- Gianfranco Zola
- Nenê
- Enrico Albertosi
- Enzo Francescoli
- Luigi Piras
- David Suazo
- João Pedro
- Luis Oliveira
10 – Luís Oliveira
Nome completo: Luís Airton Barroso Oliveira
Data de nascimento: 24 de março de 1969
Nacionalidade: Brasileiro / Belga
Clube de formação: Andelecht
Anos no Cagliari: 1992 a 1996 e 1999 a 2000 (5 anos)
Títulos: –
Já está bem cristalino nos parágrafos anteriores que o momento máximo do Cagliari na história aconteceu no scudetto conquistado nos anos 70. Apesar disso, houve outros períodos brilhantes, mesmo sem o levantamento de uma taça.
O início da década de 90 promoveu a “abertura de uma montanha russa”. No período, um dos nomes mais celebrados pela torcida casteddu foi o de Luís Oliveira, nascido brasileiro e naturalizado belga. Em duas passagens, o jogador somou 5 anos defendendo o Cagliari, o suficiente para entrar nesta lista e no coração dos torcedores.
Uma das evidências disso é a própria seleção de todos os tempos que o clube montou. Oliveira não está no “time titular”, mas ficou em segundo na votação popular para o ataque, perdendo apenas para o ídolo Francescoli.
Na visão pragmática da coisa, seus 55 gols anotados o colocam na 7ª colocação dentre os maiores artilheiros da história do Cagliari.
Marquei pela primeira vez na carreira contra um grandíssimo [goleiro] Preud’Homme; uma maré de sardos que nos levou à vitória. Gianfranco foi decisivo para mim, foi ele quem me chamou de lado e explicou como eu tinha que mudar meu jogo para efetivar minhas qualidades técnicas e atléticas
Luis Oliveira em depoimento registrado no site do Cagliari
Essas aspas “soltas” não dizem muito, mas o contexto ajuda a explicar a importância de Oliveira. O gol descrito pelo próprio foi anotado na campanha do Cagliari na Copa UEFA 1993-1994, até hoje uma das melhores do rossoblù. A equipe caiu na semifinal para a Inter, que mais tarde ficou com a taça.
9 – João Pedro
Nome completo: João Pedro Geraldino dos Santos Galvão
Data de nascimento: 9 de março de 1992
Nacionalidade: Brasileiro / Italiano
Clube de formação: Atlético Mineiro
Anos no Cagliari: 2014 – (8 anos)
Títulos: –
A relação de João Pedro com o Cagliari é parecida com a de Oliveira. Ambos nascidos no Brasil, mas naturalizados para defender outras seleções – a da Itália, no caso de João Pedro. Os dois não degustaram o sabor de levantar uma taça na Ilha da Sardegna, mas foram a referência de qualidade e gols durante bons anos.
No ato da finalização deste artigo, João Pedro caminhava para o 9º ano no Cagliari. Nascido em Minas Gerais, o atacante brasileiro passou pelo Atlético Mineiro, pelo Santos, rodou por Portugal até cravar raízes profundas na Itália.
Quis o destino que o desembarque no calcio acontecesse no rebaixamento do rossoblù. Entretanto, na retomada à Serie A e lutas frequentes para não voltar à segunda divisão, João Pedro acumulou um número elevadíssimo de gols, especialmente para um time acostumado a fugir do rebaixamento.
Com uma média de 15 gols a cada temporada da Serie A, o atacante, camisa 10 e capitão encerrou 2021-2022 com mais um rebaixamento com o Cagliari, é verdade, mas com a marca 86 gols, o 4º maior artilheiro da história casteddu. Com essas credenciais, foi convocado para defender a seleção italiana e ainda vestiu a 9.
A temporada em questão teve alguns simbolismos na relação entre time e atleta. Por um lado, os gols de sempre. Por outro, diante de protestos e descontentamento de sua própria torcida, João Pedro acabou sendo o porta-voz e foi pessoalmente conversar com os torcedores. Simbolismos agridoces, que definem bem o vínculo com o principal representante do futebol sardo.
8 – David Suazo
Nome completo: Óscar David Suazo Velásquez
Data de nascimento: 5 de novembro de 1979
Nacionalidade: Hondurenho
Clube de formação: Olimpia
Anos no Cagliari: 1999 a 2007 (9 anos)
Títulos: –
O hondurenho David Suazo dificilmente passearia pelos arredores do estádio Unipol Domus, ou de qualquer localidade da Ilha da Sardegna, sem ser reconhecido e celebrado. O atacante possui todas as atribuições para ser considerado uma bandeira do Cagliari, com exceção da conquista de títulos, mas que é compreensível no caso.
As gerações (não tão) novas seguramente reconhecem o nome. Afinal, só no rossoblù foram 9 anos da carreira de jogador, isso sem falar nos períodos defendendo Inter, Genoa e Catania. O Cagliari, todavia, foi seu primeiro clube no futebol italiano, e também o mais especial.
Assim como ocorreu com os outros nomes citados na lista, Suazo acabou transitando entre primeira e segunda divisões com o rossoblù. Nada disso o impediu de acumular mais de uma centena de gols, precisamente 102, ao longo do tempo que defendeu o time. A marca persiste até hoje como a do 3º maior goleador do Cagliari na história.
De todas as temporadas, talvez a mais especial tenha sido a 2005-2006. Com 22 gols marcados, Suazo não fechou a competição como artilheiro, mas atingiu um feito bem especial: se tornou o goleador máximo do Cagliari em uma única temporada. Sua quantidade de gols superou os 21 de Gigi Riva, simplesmente o maior jogador rossoblù de todos os tempos e maior artilheiro da seleção italiana.
7 – Luigi Piras
Nome completo: Luigi Piras
Data de nascimento: 22 de outubro de 1954
Nacionalidade: Italiano
Clube de formação: Torres
Anos no Cagliari: 1973 a 1987 (15 anos)
Títulos: –
Quando me deram a camisa do time principal pela primeira vez, eu dormi com ela
Luigi Piras ao canal do Cagliari
Esta lista dos maiores jogadores do Cagliari na história segue pagando tributo aos grandes atacantes. Desta vez, pelo menos dois motivos justificam a citação e presença de Gigi Piras.
O primeiro é o local de nascimento e crescimento. Não é algo típico e exclusivo do futebol italiano, mas é notadamente mais glorificado por lá o fato de um jogador se desenvolver pelo clube que o projetou. No caso de Piras, adiciona-se o fato de ter nascido na Ilha da Sardegna, ainda que tenha feito alguns jogos pelo time do Torres, talvez o maior rival local do Cagliari.
Até hoje, o Cagliari possui apenas um scudetto, vencido em 1969-1970, que no fundo não é apenas um. Quando estreou pelo rossoblù, o então adolescente Piras dividiu vestiário com os campeões daquela temporada. O desempenho do time, como se sabe, nunca mais chegou perto do glorioso e eterno título de 70. Mesmo assim, o goleador Piras encontrou meios para entrar no coração dos torcedores.
Ao todo, foram 15 anos atuando com a camisa do Cagliari, o terceiro maior no número de partidas (377) e o vice artilheiro de todos os tempos (104).
6 – Enzo Francescoli
Nome completo: Enzo Francescoli Uriarte
Data de nascimento: 12 de novembro de 1961
Nacionalidade: Uruguaio
Clube de formação: Wanderes
Anos no Cagliari: 1990 a 1993 (3 anos)
Títulos:
Assim como aconteceu na montagem da lista dos grandes nomes da Inter e da Juve, alguns jogadores são lembrados e até hoje celebrados no Cagliari mesmo sem terem defendido os clubes por anos e anos. Às vezes, ainda que sem títulos, as passagens de atletas brilhantes e de renome internacional seguem na memória da torcida casteddu.
É o caso de Enzo Francescoli, “O Príncipe”, considerado por muitos um dos melhores jogadores uruguaios de todos os tempos. Os elogios talvez sejam surpresa para alguns pois boa parte do talento do meia-atacante foi traduzida em vários títulos pelo River Plate e pela própria seleção do Uruguai.
Na Europa, antes de desembarcar na Itália, Francescoli disputou uma única temporada pelo Olympique Marseille e também foi campeão francês, em 1989-1990. A parada seguinte na carreira foi exatamente com o Cagliari.
Apesar do status de craque, a realidade do uruguaio não foi diferente dos demais desta lista. Isto é, as “vitórias” na Sardegna foram as campanhas de fuga do rebaixamento. Em 3 anos, acabou anotando “apenas” 19 gols, mas a própria foto exibida acima, na qual o já aposentado Francescoli recebe homenagem no estádio do Cagliari, revela o tamanho da admiração que perdura até hoje.
No período, a maior conquista do uruguaio foi levar o rossoblù à sexta colocação no campeonato italiano 1992-1993. A posição classificou o Cagliari para a Copa UEFA, a antiga versão da Europa League, algo histórico para o clube. O fato colaborou de maneira significativa para Francescoli também integrar a votação dos 11 melhores do time de todos os tempos, 20 anos mais tarde de sua passagem, prova real da identificação com o torcedor.
Me agradou a ideia de aqui encontraria uma família, verdadeiramente aquilo que hoje, mesmo tantos dias passados, me lembro com grande saudade. A cidade de Cagliari me deu rapidamente muito afeto.
Me lembro muitos momentos, especialmente os do primeiro ano. Um dos melhores gols que fiz aqui foi contra a Sampdoria. Vencemos o time que tinha acabado de ser campeão.
Francescoli em entrevista ao canal do Cagliari
5 – Enrico Albertosi
Nome completo: Enrico Albertosi
Data de nascimento: 2 de novembro de 1939
Nacionalidade: Italiano
Clube de formação: Spezia
Anos no Cagliari: 1968 a 1974 (7 anos)
Títulos: 1 scudetto (1969-1970)
Com a citação de Enrico Albertosi, a lista dos maiores jogadores do Cagliari começa a lembrar os jogadores que conquistaram o único scudetto da história do clube, mas que também fizeram história no futebol italiano.
Albertosi é considerado até hoje um dos melhores goleiros italianos de todos os tempos. Pela Azzurra, ele defendeu o gol no título da Eurocopa de 1968 e também no vice da Copa do Mundo de 1970, contra o Brasil no México.
No cenário doméstico, a história não é muito diferente. Depois de 10 anos protegendo o gol da Fiorentina, Albertosi desembarcou na Ilha da Sardegna em 1968. Talvez por acaso ou talvez por habilidade dos responsáveis pela montagem do time que disputaria o campeonato italiano 1969-1970, o que se viu foi a formação de um elenco formidável, partindo do camisa 1. Segundo o próprio Albertosi, porém, a junção de virtuosos acontecimentos por pouco não aconteceu. Ao menos não era sua vontade inicial.
Não queria vir para Cagliari. Porque em 1968 eu tinha dois filhos pequenos, era o período que na Sardegna se falava de muitos sequestros.
Ainda me parecia que eu iria para a Inter. Contudo, no último momento a Fiorentina me transferiu para o Cagliari. Eu tinha dito que não iria. Contudo, na época não podia recusar, pois era a equipe que determinava onde você deveria ir.
Então eu vim e foi graças a Deus. Não só porque venci meu primeiro scudetto, mas também por tudo que a Sardegna te oferece.
Albertosi em depoimento no canal do Cagliari
A julgar pelas manifestações da torcida casteddu, a relação de gratidão é mútua. Na eleição da seleção do Cagliari de todos os tempos, Albertosi, “o espetacular”, levou 68% dos votos dos torcedores.
Depois de deixar a Sardegna e rumar para Milão, o goleiro italiano conquistou mais um scudetto, desta vez com o Milan. Entretanto, nas palavras do próprio ao relembrar a campanha com o Cagliari, na qual encerrou a temporada também com a melhor defesa (apenas 11 gols sofridos), o time se mantém sem igual.
Na história do futebol, não existirá nunca mais um grupo unido como era o nosso.
Prova disso é o fato de que, mais de 40 anos depois, pelo menos uma vez por ano voltamos a nos encontrar aqui [em Cagliari] para relembrarmos tudo que fizemos.
Albertosi em depoimento no canal do Cagliari
4 – Gianfranco Zola
Nome completo: Gianfranco Zola
Data de nascimento: 5 de julho de 1966
Nacionalidade: Italiano
Clube de formação: Corrasi
Anos no Cagliari: 2003 a 2005 (3 anos)
Títulos: –
Não há pragmatismo na montagem da lista dos maiores jogadores do Cagliari. Os motivos para eleger os atletas dignos de lembrança são variados: anos de dedicação, gols marcados, partidas disputadas e talento. No quesito “talento”, talvez Gianfranco Zola fique atrás somente de Gigi Riva.
Os grandes jogadores italianos, seja qual for a época analisada, não têm no currículo passagens memoráveis por clubes de outros países que não sejam a Itália. O reconhecimento internacional sempre costumou vir por meio da Azzurra e do futebol nacional, e não com transferências para gigantes de outras ligas. A melhor exceção deve ser mesmo Zola.
Todavia, é claro que tudo começou em solo italiano. Basta uma rápida busca por imagens do jogador para encontrá-lo com camisas diferentes (Napoli e Parma) e sempre segurando uma taça. No Napoli, aliás, seu primeiro grande desafio e oportunidade, acabou substituindo Maradona nas ausências do craque argentino e ajudou na conquista do scudetto 1989-1990. No Parma, seguiu em evolução com vitórias e títulos em Copa UEFA e Supercopa da UEFA. Era o início do ciclo tão conhecido dos crociati. Tudo isso antes de se transferir para o Chelsea, onde jogou de 1996 a 2003.
Já dá pra perceber, portanto, que Zola chegou ao Cagliari já no fim da carreira. E “pior”: numa disputa de segunda divisão. Pois o camisa 10 não só levou o clube à promoção, como cravou de vez seu nome na história da equipe e nos corações dos torcedores. Foram poucos anos, mas definitivamente o bastante para ele ser lembrado na seleção dos 11 mais fortes do rossoblù.
3 – Nenê
Nome completo: Claudio Olinto de Carvalho
Data de nascimento: 1 de fevereiro de 1942
Data de morte: 3 de setembro de 2016
Nacionalidade: Brasileiro
Clube de formação: Santos
Anos no Cagliari: 1964 a 1976 (13 anos)
Títulos: 1 scudetto (1969-1970)
Um jogador brasileiro, mas longe de ser apenas mais mais um jogador brasileiro, ocupa o saguão das lendas do Cagliari. Trata-se de Claudio Olinto de Carvalho, o Nenê. Dos brasileiros, talvez até dos sul-americanos, é o maior de todos.
Nem é preciso dizer que ele ocupa o meio-campo daquela seleção votada pelos torcedores. Um dos motivos para isso seguramente são os 13 anos atuando com a camisa rossoblù, traduzido em 377 partidas, o terceiro maior no ranking histórico.
Nenê desembarcou na Itália após atuar alguns anos de maneira discreta pelo Santos de Pelé, Pepe, entre tantas outras estrelas. Contudo, ao se transferir para a Juventus em 1963 (sim, antes do Cagliari), começou a gravar seu nome com tinta na história do campeonato italiano.
Em Turim, Nenê disputou apenas uma temporada. Já na Ilha da Sardegna a crônica foi bem diferente. Até hoje, o brasileiro é chamado e homenageado como um dos heróis do scudetto. Em meio a mais de uma década, a temporada mais inesquecível foi, de fato, a do título de 1969-1970, até hoje o único na sala de troféus do Cagliari.
O jogador morreu em setembro de 2016, o que desencadeou uma série de homenagens póstumas, incluindo uma bonita carta aberta assinada pelo próprio clube:
Ele nos deixou na ponta dos pés, assim como chegou. Verão de 1964: o Cagliari, promovido pela primeira vez na Série A, procurava reforços de peso. Andrea Arrica, gerente geral e muitos outros do clube, se voltou para a Juventus. No ano anterior, os bianconeri haviam contratado Claudio Olinto De Carvalho, um jogador conhecido como Nenê, um atleta muito alto, principalmente quando considerados os padrões da época, vindo do Santos.
Na realidade, a Juventus procurava persistentemente um companheiro de equipe muito ilustre: Pelé. Sendo o rei um tesouro nacional, portanto inalcançável, Boniperti recorrera a Nenê: era brasileiro e jogava no Santos, uma coisa significava. No entanto, Nenê não causou grande impressão. Ala-central destacado, ele havia marcado apenas 11 vezes. Não era uma ninharia, mas muito mais se esperava na Juventus. Então, em Turim, eles ficaram felizes em se livrar desse Nenê, nunca muito convincente. Arrica e Silvestri acreditaram. Eles haviam encontrado a pedra angular. Nenê como ponto central poderia ter sido técnico e físico, mas era como uma gaiola. Ele precisava de amplo espaço.
Daí a ideia de colocá-lo no meio-campo, ou alternativamente no lado direito do setor ofensivo. A grande descoberta. Nenê explodiu, rapidamente se tornando um dos pontos fortes da equipe. Na Sardegna, ele encontrou o ambiente certo, sentiu confiança e o devolveu com desempenhos dignos de nota 8. Os pés eram verdadeiramente brasileiros, mas a técnica combinava facilidade de corrida e concretude europeia. Um jogador muito moderno, à frente do tempo. Então, quando estava perto do gol, não esqueceu seu passado como atacante e começou a executar disparos que dobraram as mãos dos goleiros.
Ao final dos treinos, os jogadores rossoblù disputavam em um jogo que segue vivo até hoje: acertar o travessão de fora da área. Nenê estava entre os mais precisos. Ele não perdia uma batida. Mirava e acertava. Dentro do vestiário estava a alma feliz. Ele sempre sorria ou ria, e fazia rir seus companheiros, com suas piadas, sua candura, sua ingenuidade solidária. E sua proverbial distração. Ele era caprichoso, dentro e fora de campo, mas manteve uma educação impecável. Se ele falava de seus antigos treinadores e gerentes, precedia o nome com um “mister”: “mister Scopigno”, “mister Silvestri”, “mister Arrica”, “mister Boniperti”.
Seu apelido, Nenê, sua mãe que o deu, “porque quando criança eu sempre chorava”, ne-ne “,” ne-ne “. Em campo foi um espetáculo. A primeira lembrança é do seu incrível galope pela ala direita no Olímpico de Roma. Para a geração mais jovem, o vídeo está disponível no YouTube. Nenê tira a bola da grande área e começa a correr em direção ao gol adversário, todos deslocados para a direita. Um relâmpago, uma gazela louca. Os defensores da Roma não conseguem acompanhá-lo, são semeados um após o outro. A certa altura, tenta-se nocauteá-lo com um golpe de kung-fu: nada a fazer, ele não aceita. À margem do treinador, Oronzo Pugliese acompanha a corrida: provoca-o, grita-lhe com tudo no dialeto da Apúlia, quase entra também no retângulo verde para tentar detê-lo. No final do campo, Nenê levanta a cabeça, olha para o centro e acerta Riva, que está esperando, com a expressão de espanto: um cruzamento na meia altura, Gigi não precisa fazer nada além de colocá-la na rede. E aí ele nem comemora, corre para o companheiro e aponta para ele, sorrindo, como se dissesse “O gol é seu, você fez tudo”. E a raça dos pobres Pugliese? “Engraçado,” Nene comentou laconicamente.
Ele permaneceu na Sardegna por 12 temporadas, até o amargo rebaixamento de 1975-76. Na prática, protagonista até o final do ciclo do grande Cagliari do Scudetto. O clube deu-lhe o cartão, ele parou e dedicou-se a ser treinador. Ele havia vestido a camisa do rossoblù 311 vezes na Série A, um recorde absoluto, com 23 gols. Um recorde batido apenas por Daniele Conti. O pós-futebol não foi feliz. Ser treinador também exige habilidades mais domadoras que não lhe pertenciam. Melhor como treinador de jovens e instrutor de crianças. Entre tantos, lembramos um pequeno Claudio Marchisio, que o lembrou com carinho no Twitter. Um professor de vida, Nenê, uma lenda rossoblù. Quando adoeceu, seus companheiros cuidaram dele com carinho e dedicação. Eles continuaram sendo um time, mesmo que não chutassem mais uma bola em um gramado verde. Nenê era um símbolo de uma época. Agora que se foi, todos nos sentimos um pouco mais sozinhos. Ciao, Cláudio.
Carta de despedida do Cagliari a Nenê
2 – Daniele Conti
Nome completo: Daniele Conti
Data de nascimento: 9 de janeiro de 1979
Nacionalidade: Italiano
Clube de formação: Roma
Anos no Cagliari: 1999 a 2015 (16 anos)
Títulos: –
O sobrenome “Conti” é uma das grandes entidades do campeonato italiano. Se olharmos a lista dos maiores jogadores da Roma, há um certo Bruno Conti nas posições de destaque. No caso do Cagliari, o nome é Daniele Conti (o filho), uma das maiores bandeiras rossoblù de todos os tempos.
No papel, o jogador até vestiu a camisa da Roma no início da carreira. Porém, tecnicamente, Conti dedicou toda a vida de jogador de futebol às cores vermelho e azul do Cagliari. Ao todo foram 16 anos, traduzidos em incríveis 463 partidas, disparado o maior da história do time neste quesito.
Como indicado anteriormente, não há meios pragmáticos para elencar a importância de um atleta para uma equipe. Especialmente quando o clube em questão é o Cagliari, campeão do campeonato italiano, é verdade, mas longe de ser um colecionador de taças e montador de esquadrões.
É por isso que as razões talvez sejam explicadas somente por um verdadeiro torcedor casteddu. Durante os 16 anos, Conti não chegou a sequer flertar com uma taça. Muito pelo contrário. As primeiras temporadas foram disputadas na segunda divisão. A devida conquista foi o acesso à Serie A em 2003-2004 com o vice-campeonato da Serie B.
Uma das melhores campanhas foi a da Copa Itália em 2004-2005, quando o clube caiu para a Inter (campeã) na semifinal. Mas pouco importa para a torcida rossoblù. Com o passar do tempo, Conti foi criando enorme identificação com os torcedores, superando número de partidas de grandes lendas locais e finalmente conquistando a faixa de capitão.
Sua despedida dos gramados aconteceu em 2015, infelizmente com novo rebaixamento do seu Cagliari. Independente disso, naquela seleção montada pelos torcedores, Conti não só figurou como titular como seguramente seria o capitão das grandes lendas.
1 – Luigi Riva
Nome completo: Luigi Riva
Data de nascimento: 7 de novembro de 1944
Data de morte: 22 de janeiro de 2024
Nacionalidade: Italiano
Clube de formação: Legnano
Anos no Cagliari: 1963 a 1976 (13 anos)
Títulos: 1 scudetto (1969-1970)
Gigi Riva atende todos os requisitos para ser indicado como o maior jogador do Cagliari na história. Enquanto os outros atletas levam vantagem em anos no clube, número de gols, número de partidas, o atacante italiano é expressivo em todos eles.
Riva é tão “grande” que sua representatividade cobre toda a Itália. Atuando pela Azzurra, ele segue como o maior artilheiro da seleção italiana até hoje. Alguns desses vários gols foram marcados durante o título da Eurocopa de 1968. Tais acontecimentos o levaram com merecimento ao Hall da Fama do futebol italiano.
Na lista dos quesitos, podemos partir do “bandeira”. Isto é, os vários anos de dedicação ao Cagliari. A licença poética permite dizer que jogou apenas no rossoblù, ainda que tecnicamente tenha disputado uma temporada pelo pequeno Legnano. Foram belos 13 anos na Ilha da Sardegna, com mais de 300 partidas no currículo.
No tópico dos gols, trata-se de um dos grandes especialistas. As credenciais pela seleção italiana já dizem muito, mas pelo Cagliari é ainda melhor. Em três temporadas Riva fechou o campeonato italiano como artilheiro máximo: 1966-1967 (18 gols), 1968-1969 (20 gols), 1969-1970 (21 gols). Ao todo, foram 205 gols marcados, o maior do clube.
Por fim, lembremos do título, o scudetto de 1969-1970, o único do Cagliari e a principal conquista do clube. A temporada foi duplamente coroada: a taça em uma mão e o título de goleador do torneio na outra. Em meio a outros nomes, como o próprio Nenê, Gigi Riva acabou se tornando o grande símbolo do triunfo, motivo de gratidão e reconhecimento eternos dos torcedores.
Gigi, o nosso patrimônio, como o mar e a bandeira dos 4 Mouros; exemplo de orgulho, coragem, dentro e fora de campo; passaporte de identificação para sardos em todo o mundo. Marcou uma era, levou o Cagliari ao topo, onde nunca havia chegado antes. Junto com seus companheiros de equipe igualmente extraordinários, ele ajudou a conquistar um Scudetto histórico, o primeiro de um time do Sul. Quem nunca o viu jogar não sabe o que perdeu. Sua esquerda era uma arma ilegal, poderosa e precisa. Não fez prisioneiros quando explodiu, seco, nervoso, letal. Os goleiros não dormiam à noite, os zagueiros se agarravam a ele para conter sua força vital, sua força física excessiva.
Cada bola era como se fosse a última. Ele corria para ela com raiva. Assim, certas façanhas nasceram nas acrobacias, na bicicleta ou com voos de anjos em bolas lançadas a meia altura.
Nota do Cagliari sobre Riva em comemoração ao aniversário do atacante
Ao longo dos anos, foram diversas as homenagens prestadas a Riva. Uma delas foi a nomeação a presidente honorário do Cagliari. Indício muito importante que falar de Riva é falar de Cagliari e vice-versa.
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Jornalista e admirador de quase tudo que venha da Itália – especialmente gols e comida. Jamais identificado com a cobertura do campeonato italiano, fundou o Golazzo para noticiar, entrevistar e opinar sobre o calcio.