Na Sicília, uma das regiões mais icônicas da Itália, Palermo e Catania possuem as maiores torcidas. É por isso que, ainda que longe da Serie A, os dois times formam e representam o Derby di Sicilia
Os últimos resultados do Derby Di Sicilia, entre Palermo e Catania, foram:
- Catania 2×0 Palermo – 12/12/2021 – Serie C 2021-2022
- Catania 0x1 Palermo – 03/03/2021 – Serie C 2020-2021
- Palermo 1×1 Catania – 09/11/2020 – Serie C 2020-2021
- Catania 1×1 Palermo – 21/04/2013 – Serie A 2012-2013
- Palermo 3×1 Catania – 24/11/2012 – Serie A 2012-2013
- Palermo 1×1 Catania – 28/04/2012 – Serie A 2011-2012
Juntos, Palermo e Catania estão distantes dos maiores campeões campeonato italiano. Todavia, também unidos, os times fazem o Derby Di Sicilia, um dos clássicos de maior prestígio da liga.
Mas o que faz esse derby, que sofreu grandes hiatos e poucas vezes aconteceu na Serie A, ser tão especial?
Há quem credite isso à região da Sicília em si, que costumeiramente é representada pela beleza e violência dos filmes de máfia. O mais provável, porém, é mesmo a paixão local por futebol, que é depositada em Palermo e Catania. Independente de qual divisão os times estejam.
Palermo e Catania, ainda que personagens principais deste clássico, integram um restrito, bravo e controverso grupo de clubes que renasceram. Isto é, ao longo de suas histórias, ambos os times conviveram e tiveram que superar rebaixamentos e crises financeiras.
Tal persistência, alimentada por adoração ímpar, é talvez a única coisa capaz de rivalizar com os rivais ricos do norte da Itália. Ao contrário de Juventus, Milan e Inter, os dois times da Sicília são excelentes representantes do sul do país. Nos cenários político e futebolístico, a divisão entre Norte e Sul é bem significativa na Itália.
Neste artigo, você vai conhecer o Derby Di Sicilia por meio de informações como:
- Os times da Sicília
- História
- Os anos sem o Derby Di Sicilia
- Títulos
- Jogadores que já jogaram por Palermo e Catania
Os times de futebol da Sicília
Popularmente, é aceito no mundo do futebol que o Derby Di Sicilia envolve Palermo e Catania. Porém, na Sicília, ao contrário de outras regiões, que são “disputadas” apenas por dois times, há mais clubes importantes, e que merecem atenção e menção.
Na prática, o futebol da Sicília é resumido pela tríade formada por Palermo, Catania e Messina. Sim, o terceiro time está longe de ser um intruso e é igualmente importante.
Mas por que então o Messina não está no Derby Di Sicilia?
O motivo mais aceito é o holofote. Ou ausência dele, no caso do Messina. Diferentemente de Palermo e Catania, o clube giallorosso esteve na primeira divisão apenas 5 temporadas. Por outro lado, a dupla do Derby Di Sicilia tem mais “experiência” nesse quesito.
Fora isso, além dos títulos e campanhas mais impressionantes dos rivais, o Messina também fica para trás no número de torcedores. Em pesquisa do William Hill realizada no Sul da Itália e publicada no MediaGol, foi revelado um dado importantíssimo para esse clássico:
- 46% dos entrevistados disseram torcer para o Palermo
- 38% dos entrevistados disseram torcer para o Catania
- 16% declararam não torcer para nenhum dos dois
É por isso que, embora a Sicília seja um reduto importante do futebol italiano, Palermo e Catania estão no topo. No entanto, além deles, e do Messina, há outros dignos de menção:
- Licata
- Trapani
- Sancataldese
- Akragas
- Siracusa
- Gela
- Giarre
- Cephaledium
- Catalgirone
- Carlentini
- UPD Santa Croce
- Acireale
- Real Siracusa Belvedere
- Paternò
- Marsala
- Unitas Sciacca
- Cità di Pettineo
- ASD Sfarandina
- ASD San Mauro Castelverde
- Marina di Ragusa
História
Na Itália, quando um clube declara falência e “renasce”, normalmente acontece por meio da redefinição do seu nome. Bem, o nome principal é mantido, mas o título completo é trocado. Isso aconteceu com o Parma (já chamado de Società Sportiva Dilettantistica Parma Calcio 1913, Parma Football Club e Parma Associazione Calcio) e também com o Palermo. É por isso que é difícil fazer a retrospectiva do Derby Di Sicilia.
Hoje, oficialmente, o Palermo atende pelo nome de Società Sportiva Dilettantistica Palermo. Porém, a exemplo do Parma, o clube foi rebatizado algumas vezes desde o seu nascimento. Tanto que o seu site oficial nem cita os nomes anteriores. O mesmo vale para o Catania, renomeado algumas vezes ao longo da história até chegar ao atual Catania Calcio.
Palermo e Catania estão entre os clubes mais antigos da Itália e do mundo. Tudo começou no início do ano de 1900. Para o Palermo, os primeiros capítulos foram bem semelhantes ao do Genoa. Até mesmo suas cores, hoje rosa preto, eram azul e vermelho. Exatamente como seu maior rival, o Catania.
O porto de Palermo, como o de Gênova, foi a porta de entrada para ingleses que levaram para a Itália, entre outras coisas, o futebol. No caso do Palermo, um de seus cidadãos, Ignazio Majo Pagano, foi o encarregada pela importação. Ele é responsável por fundar um dos times mais antigos da Sicília em 1º de novembro de 1900, o Anglo-Palermitan Athletic And Foot Ball Club.
No documentário Palermo Calcio – 100 anni, o historiador Vincenzo Prestigiacomo traz detalhes preciosos dos primeiros anos de vida do rosanero. Por exemplo, o primeiro derby na Sicília sequer incluiu o Catania. O jogo aconteceu em 18 de abril de 1901, entre Palermo e Messina. Já na primeira década, o clube atualizou seu nome para Palermo Football Club, em 1907.
A outra metade deste clássico, correspondente ao Catania, iniciou sua trajetória no ano seguinte, 1908. O clube nasceu U.S. Catanese e assim entrou em campo, contra aquele Palermo e outros da Sicília, durante alguns anos em torneios regionais, como a Copa Lipton.
O primeiro Derby Di Sicilia aconteceu em 1935. Pelo menos, de maneira oficial. A partida, vencida pelo Catania por 1×0, foi um compromisso da Copa Itália daquela temporada. No ano seguinte, o clássico se repetiria na Serie B do campeonato italiano.
Dentre os sicilianos, os dois times são os que estiveram na Serie A o maior número de temporadas. O primeiro Derby Di Sicilia na primeira divisão aconteceu em 17 de setembro de 1961. O resultado: 0x0.
As crises financeiras e falências
O Palermo é mundialmente conhecido por suas cores: o rosa e preto. Mesmo quando mudou seu escudo, as cores foram mantidas. Todavia, no começo de sua história, as cores utilizadas eram azul e vermelho. A mudança, diz a lenda, teria acontecido por uma lavagem malsucedida. História semelhante à da camisa da Fiorentina.
Apesar disso, a versão mais aceita e defendida pelos torcedores é que as cores representariam os altos e baixos do Palermo. Sendo rosa os momentos virtuosos e preto os negativos. Verdade ou não, a analogia se aplica tanto ao time quanto o grande rival.
A transição dos times entre primeira e segunda divisão aconteceu de maneira frequente, triste, mas “natural”. Isto é, em razão de desempenhos ruins, os times acabaram rebaixados. No entanto, crises financeiras e escândalos também pontuaram esses altos e baixos.
Palermo e o Totonero de 1986
O Calciopoli de 2006 está longe de ser o primeiro escândalo do futebol italiano. Em 1986, 20 anos antes, algo semelhante aconteceu na Itália e recebeu o nome de Totonero.
Eis o significado da palavra:
Apostas ilegais em jogos de futebol, muitas vezes com consequências ilícitas e maliciosas.
Com uma tradução tão autoexplicativa, não é nem preciso dizer o motivo que levou à punição de tantos times. O caso foi tão grave que envolveu clubes das Series A, B e até mesmo da Serie C.
O Palermo, envolvido no escândalo, foi obrigado pela federação a iniciar a temporada 1986-1987 com -5 pontos. Contudo, o rosanero sequer chegou a iniciar aquele campeonato italiano. Em meio a essa crise, o clube se encontrou em uma dívida milionária e acabou excluído da federação italiana de futebol. Em outras palavras, o Palermo foi à falência.
O time renasceria somente na temporada seguinte, com novo nome e na Serie C.
A exclusão do Catania em 1993
Nas idas e voltas do Catania pelas divisões do campeonato italiano, o time rossoazzurro se encontrava na Serie C em 1992-1993. A performance naquela edição do italiano, concluída com uma 8ª posição, não credenciou o clube para subir à segunda divisão.
O que parecia ser apenas uma temporada trivial, se tornou o início de um pesadelo. Isso porque, no período de preparação para a próxima edição do torneio, as notícias davam conta que o Catania estaria a caminho da falência.
Foi então que, por meio de decisão do presidente da federação, o clube siciliano foi expulso da Serie C. A condenação foi muito parecida com a sofrida pelo Palermo em 1986. A diferença é que o Catania voltou às origens ao ser obrigado a participar de torneios regionais.
O time voltaria à Serie C anos mais tarde, depois conquistaria o acesso à Serie B em 2002 e à primeira divisão em 2006.
Catania e a compra de partidas em 2015
Depois de performances impressionantes e seguidas temporadas na Serie A, o Catania acabou rebaixado na temporada 2013-2014. O time siciliano terminou na 18ª posição e foi para a segundona junto com Bologna e Livorno.
A queda acabou sendo apenas o começo do inferno astral rossoazzurro. Na temporada seguinte, o clube ficou na 16ª posição da Serie B. Porém, como reportou o Il Post em 20 de agosto de 2015, a federação mais uma vez condenou o Catania e o time foi parar na última colocação. Desta vez, o crime foi comprar 5 partidas da segunda divisão.
A punição incluiu ainda a obrigatoriedade de iniciar a temporada seguinte na Serie C com 12 pontos negativos.
A falência do Palermo em 2019
As coisas andavam bem para o Palermo na Serie do italiano 2018-2019. Próximo de obter mais um acesso à primeira divisão, o clube tinha pontuação suficiente para disputar os play-offs.
O clube só não contava com a perda de incríveis 20 pontos em razão de déficit financeiro. Os crimes administrativos cometidos de 2014 a 2017 foram descobertos e punidos com o envio do Palermo diretamente para a Serie D.
O quase acesso à primeira divisão se tornou um pesadelo com a declaração oficial de falência do clube rosanero. Em 2019, o Palermo foi comprado e renasceu (de novo) com um novo escudo e filosofia.
Os anos sem o Derby Di Sicilia
Desde que ele começou a ser disputado, o maior período sem o Derby di Sicilia é de 14 anos. Isso aconteceu entre as temporadas 1941-1942 e 1955-1956.
Apesar disso, esta seção deste artigo é atualizada praticamente todo ano. Seja por falência, exclusão de campeonatos ou outras bizarrices, Palermo e Catania passaram a ficar distantes um do outro com certa frequência. Até há pouco tempo, o clássico realizado em 21 de abril de 2013 era tratado como o último.
Entre renascimento e reformulação do Palermo e alguns acasos do destino, os rivais ressurgiram no mesmo grupo da Serie C do italiano na temporada 2021-2022. Como se sabe, o regulamento da terceira divisão é bem peculiar. São 60 clubes no total, distribuídos em 3 grupos. Ao final do campeonato, os campeões de cada grupo sobem para a Serie B.
O problema é que os times do grupo A, por exemplo, duelam apenas com outros times do grupo A. Felizmente para os fãs do derby, Palermo e Catania acabaram caindo no mesmo bloco e voltaram a realizar o duelo em dezembro de 2021, com vitória dos rossazzurri.
Mas a alegria, como de costume nesse tema, durou pouco. Na mesma temporada, o Catania sequer finalizou o torneio ao simplesmente fechar as portas. Pela “enésima” vez, a falência de uma das parte pôs fim ao clássico, sem a menor pista de quando retornará.
Títulos
Palermo e Catania não chegam nem perto da quantidade de títulos de Juventus, Milan, Inter e até mesmo o Genoa. Mesmo assim, há taças consideráveis dos dois lados deste clássico.
Desde a última declaração de falência, o Palermo, embora o mesmo de sempre, decidiu reescrever sua história do zero. O site oficial do time, por exemplo, não traz informações das quedas e títulos do passado. Por outro lado, o Catania não omite nenhuma das partes.
A principal disputa entre os times é pelos títulos da Serie B. No quesito, o Palermo leva certa vantagem. Porém, falando de acessos da segunda para a primeira divisão, a disputa é mais equilibrada. Isso sem falar nos torneios regionais da Sicília.
Palermo | Competição | Catania |
4 | Campeonato italiano Serie B | 1 |
4 | Acessos à Serie A | 7 |
Jogadores que já jogaram por Palermo e Catania
Ao longo da história, alguns jogadores tiveram o privilégio e a pressão de defender as camisas de Palermo e Catania. Com ódio similar ao que alimenta o Derby Della Capitale, a transição direta de um time para o outro é rara até hoje. No entanto, ela foi contemplada algumas vezes.
Como os títulos de grande expressão não pontuam a história dos times, os maiores ídolos de ambos são os protagonistas dos acessos. Alguns, aliás, como Christian Terlizzi, tiveram o privilégio de marcar gols no derby pelos dois times.
Outros, a exemplo do consagrado técnico Claudio Ranieri, têm em seu passado a passagem pelos dois maiores da Sicília.
Claudio Ranieri
O técnico Claudio Ranieri já era muito conhecido na Itália. Então, ele ganhou os holofotes do mundo todo ao conquistar a Premier League com o Leicester, em 2015-2016.
Comandando equipes, ele já liderou Juventus, Roma, Internazionale e Sampdoria. O que pouquíssima gente sabe é que, enquanto jogador, ele já defendeu as cores de Palermo e Catania.
Embora revelado pela Roma, ficou apenas uma temporada no clube da capital. Sua carreira de jogador é conhecida mesmo pelo tempo que jogou pelo Catanzaro, cerca de 8 anos.
Depois desse período, no ano de 1982, assinou com o Catania, seu primeiro time na Sicília. Nos dois anos que defendeu o time rossoazzurro, Ranieri conquistou um acesso à Serie A.
Mesmo assim, acabou indo diretamente para o Palermo, onde ficou por outros dois anos e se aposentou.
Giuseppe Mascara
Na Itália, os jogadores que criam forte identificação com um time se tornam “bandeiras”. O atacante Mascara passou por alguns times na Itália, mas foi no Catania que se tornou uma “bandeira”.
Por lá, foram duas passagens:a primeira por empréstimo (2003-2004) e a segunda, e mais marcante, em definitivo (2005 a 2011). Com as cores do Catania, conquistou o acesso e foi protagonista da última ótima fase do clube na Serie A.
Em um jogo contra a Inter, no San Siro, em 2006, marcou um gol que é celebrado até hoje.
Antes de tudo isso, jogou duas temporadas pelo Palermo.
Matias Silvestre
Entre as temporadas 2012 e 2014, o argentino Matías Silvestre vestiu as camisas dos dois times do Derby Della Madonnina: Milan e Inter. Entretanto, essa não foi a primeira vez que ele defendeu os dois lados de um clássico italiano.
Quando jogador do Boca Juniors, Silvestre chamou atenção e foi contratado pelo Catania. No clube, jogou como titular de 2008 a 2011, tendo como companheiro o italiano Mascara.
Mesmo conquistando a faixa de capitão, acabou contratado pelo grande rival Palermo. No rosanero, jogou uma e talvez a melhor temporada da carreira. Na sequência, foi parar na Inter.
Christian Terlizzi
Terlizzi é um dos ciganos do campeonato italiano que, quando passou pelo Palermo, viveu uma das melhores fases do time siciliano. Ele integrou o grupo que conquistou a Serie B de 2003-2004 e, na Serie A do ano seguinte, garantiu participação na Copa da UEFA.
Na sequência, foi à Gênova, onde jogou pela Sampdoria. Talvez por saudade da Sicília, ficou por lá apenas uma temporada e se transferiu para o Catania, em 2007.
Nos três anos que vestiu a camisa rossoazzurra, teve como ponto alto um gol contra o Palermo, sua ex-equipe, que não comemorou.
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Jornalista e admirador de quase tudo que venha da Itália – especialmente gols e comida. Jamais identificado com a cobertura do campeonato italiano, fundou o Golazzo para noticiar, entrevistar e opinar sobre o calcio.