A Reggina, clube que disputou o campeonato italiano Serie B 2022-2023, provavelmente é a milésima equipe do futebol da Itália a ser integralmente vendida e comprada por um terceiro do exterior. O clube emitiu um comunicado aos torcedores e à imprensa nesta quinta-feira, 6 de julho, contando a novidade impactante, mas usando não mais que 3 linhas para resumir tudo.
A Reggina 1914 anuncia que o acordo preliminar para a venda de 100% das ações do clube para a Guild Capital, uma empresa inglesa com experiência no mercado italiano, foi assinado.
A conclusão da operação está prevista para os próximos dias.
Nota da Reggina sobre conclusão da sua venda
O modo abrupto de atualizar os torcedores sobre a transferência de comando, com direito a “100% das ações” caindo nas mãos de “uma empresa inglesa” pode ter um motivo não tão óbvio – pelo menos àqueles que perderam os acontecimentos que levaram ao desfecho da última edição do campeonato italiano.
Assim como ocorreu com a Juventus na Serie A, que foi punida com perda de pontos diretamente na tabela de classificação, alguns times passaram por situação semelhante na segunda divisão. As razões foram distintas, como pendências no pagamento de salários e imposto de renda, mas a pena acabou sendo semelhante. A Reggina foi um dos alvos. O Genoa também.
O campeonato acabou, a Reggina não foi promovida, mas os problemas persistiram.
No futebol profissional da Itália, logo que uma temporada se encerra, mesmo antes de serem definidos os dias de abertura e encerramento do próximo ciclo, os 20 clubes de A e B devem correr para realizar inscrição dentro do prazo, que costuma ser bem curto. Há uma série de requisitos que devem ser respeitados para completar o registro na temporada que virá. Em alguns casos, sabendo que não será possível honrar as exigências, os próprios times rejeitam a inscrição. O destino desses costuma ser a Serie D (que é praticamente um futebol amador) ou simplesmente nenhuma competição.
Na questão financeira, ou seja, na análise de pendências, dívidas ou inconsistências, quem fiscaliza os clubes é a Covisoc – Composizione Organi di vigilanza Contabile Sulle Societa Sportive ou “Composição dos Órgãos Fiscalizadores de Contabilidade das Sociedades Desportivas”, em tradução livre. Para concluir a inscrição nos torneios, todos os times precisam do “carimbo” da Covisoc.
Lecco e Reggina
Pois o que a Reggina tem a ver com tudo isso?
Bem, pensando na inscrição para o campeonato italiano Serie B 2023-2024, dois clubes acabaram não respeitando o prazo, mas por motivos díspares: o Lecco e a Reggina.
O Lecco acabou se complicando por razões mais simplórias, tanto que acabou resolvendo o impasse. Após ser promovido da Serie C via playoffs, a equipe não atingiu o prazo original por causa do seu estádio, o Rigamonti-Ceppi. Os problemas incluíram estrutura, capacidade, acesso, iluminação, entre outras coisas. O Lecco foi impedido de se inscrever na segunda divisão. A situação, no entanto, foi resolvida.
Já a Reggina passou a trabalhar como se a temporada passada não tivesse acabado. Pelo mesmo motivo que acabou perdendo pontos na tabela, o time amaranto foi impedido de concluir o registro na edição seguinte da competição. É por isso que o começo deste artigo destaca a venda da instituição feita de forma repentina e com poucas explicações, talvez representando a última cartada da Reggina na tentativa de dizer à Covisoc que as contas estão em dia.
O problema é que, conforme reporta o GOAL e outros jornais, o órgão rejeitou a tentativa inicial da Reggina e o primeiro recurso apresentado também. Em outras palavras, a Reggina foi proibida de se inscrever no campeonato italiano Serie B 2023-2024.
O artigo do periódico lembra que, apesar do cenário atual ser o descrito acima, há ainda alternativas para novos recursos. O próximo passo seria recorrer ao Collegio di Garanzia dello Sport (como fez Juve), “com possível audiência nos dias 20 e 21 de julho; por outro lado, a data da eventual audiência no TAR (Tribunal Administrativo Regional) sobre os processos está marcada para 2 de agosto”.
Campeonato italiano Serie B 2023-2024 com 22 times
Diante do impasse, cenários improváveis e até mesmo insanos passaram a ameaçar a organização do campeonato italiano Serie B.
O formato previsto inclui somente 20 times na disputa da competição. No entanto, a desinteligência provocada pelas inscrições de Lecco e Reggina causou movimentação e o sonho de Brescia e Perugia.
Mas por que?
Simples, a dupla acabou sendo rebaixada para a Serie C na temporada passada. Aliás, os clubes podem ser considerados os “últimos rebaixados” por terem ocupado as posições mais acima na tabela, ainda que dentro da zona.
A tese defendida é que, como Lecco e Reggina não cumpriram o prazo de inscrição (o que é parcialmente verdade), Brescia e Perugia deveriam ser premiados com o cancelamento dos respectivos rebaixamentos e, por consequência, serem inscritos na segunda divisão.
Há diversos problemas nesse cenário. O principal seria a ampliação do número de equipes na Serie B, de 20 para 22. Isso aconteceria porque, mesmo improvável e praticamente impossível, Lecco, Reggina, Brescia e Perugia teriam direito de inscrição.
Apesar de tudo isso, a Serie B foi bem clara no comunicado publicado em 23 de junho: o formato deve ter apenas 20 clubes. Levando isso em consideração, a expectativa é que apenas Reggina e Brescia “briguem” nos tribunais pela última vaga no próximo ciclo do campeonato italiano.
O que vai acontecer?
No ato da publicação deste artigo, a Serie B seria disputada pelos 19 times já revelados e o Brescia, a Reggina estaria fora. Contudo, como indicado anteriormente, há espaço para apresentação de recursos até o início de agosto, o que torna o processo ainda mais delicado, já que o torneio começa em 19 do mesmo mês e o sorteio do calendário precisa contecer bem antes disso.
É por isso que a venda da Reggina segue como ponto principal de toda a situação. O movimento nada mais é do que a última cartada da equipe da Calábria para indicar que as contas estão e estarão em dia daqui em diante. O prazo já passou, é verdade, mas o Lecco conseguiu contorná-lo, ainda que os entraves fossem outros.
O Brescia seguirá de olho e os fãs do futebol italiano também.
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Jornalista e admirador de quase tudo que venha da Itália – especialmente gols e comida. Jamais identificado com a cobertura do campeonato italiano, fundou o Golazzo para noticiar, entrevistar e opinar sobre o calcio.