Em entrevista ao Golazzo, o atacante brasileiro Jefferson revelou que as divisões inferiores do campeonato italiano “incentivam, obrigam e até pagam” para que times escalem jogadores das divisões de base.
O jogador, que no Brasil se destacou no Paraná, foi atleta da Fiorentina de 2008 a 2011, mas rodou por boa parte da Itália em sequência de empréstimos. Atualmente, ele é um dos atacantes e artilheiro do Catania, clube siciliano que acaba de ser refundado após falência e passa por processo de reconstrução na Serie D.
Lembrando as experiências que teve ao longo da carreira, Jefferson contou ter visto (e ainda ver) escalações forçadas de jogadores “under”. O termo, traduzido livremente do inglês como “abaixo” ou “sub”, faz referência aos atletas das divisões de base. Segundo o atacante, as regras existem, mas funcionam de forma diferente na quarta e terceira divisões.
Na Serie D, onde está o Catania atualmente, segundo depoimento do brasileiro, há obrigatoriedade. Isto é, cada um dos times deve ter e utilizar 4 jogadores “under”. Já na Serie C, não há imposição, porém os clubes que optarem pela utilização dos mais jovens ganham incentivos e até premiação em dinheiro. Na época em que estava no Latina, Jefferson disse ter sabido que o clube “recebeu quase 500 mil euros por contar com atletas da base em praticamente todos os jogos”.
Aqui tem essa obrigatoriedade de jogar com jogador jovem. Estão falando que na seleção italiana não tem mais jogador jovem, com perspectiva.
Na Serie D você é obrigado a jogar com 4 jogadores “under”. É obrigado. Se tirar um, tem que colocar outro.
Na Serie C pra cima, não é obrigatório, mas se você joga com 3 “under” por 90 minutos, a liga dá um incentivo ao time. No Latina, que eu estava jogando no passado, não tenho certeza absoluta, mas pelo que fiquei sabendo o clube usou “under” em praticamente todos os jogos. Eles pegaram quase 500 mil euros, então é uma boa recompensa.
Jefferson, jogador do Catania, em entrevista ao Golazzo
A tal regulação, que parece não esbarrar na Serie A e na Serie B, não tende a cumprir o papel ao qual parece destinada. A ideia, conforme contado pelo atacante do Catania, é garantir a projeção dos mais novos, de modo que reforce até mesmo a seleção italiana no futuro. Aliás, Jefferson ainda revelou que as críticas foram muito pesadas sobre a Liga depois dos vexames da Squadra Azzurra ao ficar fora da Copa do Mundo duas vezes seguidas.
O problema, conforme o narrado, é que jogadores ficam sem clube depois que envelhecem e perdem o status de “under”. Depois dos 23 anos, as equipes não têm mais a obrigatoriedade de tê-los no elenco.
Aqui caíram matando na liga [depois da Itália ficar fora da Copa do Mundo]. Só que não sei o quanto essas regras podem ajudar.
Tem muito jogador que joga até 23 anos, depois não tem mais a idade, só que ele pensa que já é um jogador, mas não é. Pois nenhum clube vai querê-lo depois disso.
Tem uma associação (AIC – Associação Italiana di Calciatori) que disse que tem muito jogador diagnosticado com depressão. Depois de 23 anos ele não arruma mais clube e fica com depressão.
Jefferson, jogador do Catania, em entrevista ao Golazzo
Assista ao trecho da entrevista:
Recomendados para você:
Jornalista e admirador de quase tudo que venha da Itália – especialmente gols e comida. Jamais identificado com a cobertura do campeonato italiano, fundou o Golazzo para noticiar, entrevistar e opinar sobre o calcio.