Revista Golazzo #5 – O Milan campeão italiano 2021-2022

Revista Golazzo - Milan campeão italiano 2021-2022
Rafael Leão, provavelmente o símbolo do título do Milan (Reprodução / Twitter Rafael Leão)

“O Milan é campeão italiano”. A última vez que este grito ecoou por Milão (e até pelo mundo) foi com o desfecho da temporada 2010-2011. De lá para cá, mais de uma década passou com acontecimentos que superam um “simples” hiato do título mais importante do futebol italiano.

O torcedor (do Milan ou não) que se acostumou com o rossonero vencedor de Champions League acabou sofrendo uma pancada descomedida na década seguinte. A exemplo do que aconteceu com a rival Inter, o clube passou a ver a Juve dominar o cenário doméstico e ainda ser a grande representante italiana fora das fronteiras.

Duas coisas marcaram bastante o período das trevas: camisas horríveis e jogadores de qualidade duvidosa. O primeiro ponto parece um detalhe banal, mas não é. Trata-se de uma casca que ajudava o torcedor a olhar para o campo e provavelmente pensar “este não é o Milan”. Por vezes, o clube foi a campo usando um uniforme cujos tons de vermelho, de tão escuros, eram praticamente pretos. Até o escudo foi substituído na onda retrô. Terrível. Certa vez, um Derby Della Madonnina quase atrasou porque a Inter também vestia uma camisa bem escura, que poderia causar confusão. Veja só: um Milan x Inter sem azul e sem vermelho.

Falando do segundo ponto, sendo até gentil com as gerações que tentaram defender o rossonero, os nomes chegaram a brilhar no meio de tabela de outras ligas. Entretanto, na melhor das análises, conseguiram fazer apenas o mesmo em Milão. De cabeça, vêm à mente nomes como Bacca, Honda, Montolivo, Cerci, Zapata, Niang… Todos vestindo a camisa descrita acima. “Este não é o Milan”.

O período foi tão sombrio que surgiu até a “maldição do camisa 9”. Nenhum atacante que vestiu o número conseguiu chegar perto das performances e estatísticas de Inzaghi. Hoje, até isso dá para dizer que acabou.

E se realmente “acabou”, parte do crédito deve ser dado a Paolo Maldini. Sim, aquele que é o maior jogador da história do Milan partiu para o desafio de atuar como diretor técnico do único clube que defendeu a vida toda, e pelo qual venceu todos os títulos possíveis. É óbvio que há muito mais gente envolvida no processo de negociação de jogadores, mas a personificação de Maldini é correta e justa.

No processo até a reconquista do scudetto, tão importante quanto contratar foi não renovar com atletas que pediam demais. Em um governo explicitamente austero, Maldini colocou limites em negociações e alguns “adeus” foram difíceis de explicar no momento, mas agora todos entendemos. Não deve ter sido fácil para o torcedor ver Çalhanoglu ir de graça para a Inter. Ou ainda ver Donnarumma fechar com o PSG. Hoje é até difícil medir o quão acertadas foram essas decisões, mas ver o meio-campo funcionar bem e aplaudir Mike Maignan no gol ajuda muito.

Das contratações, os nomes desconhecidos do grande público continuaram chegando. A diferença colossal é a correspondência de expectativas. Theo Hernández, Tonali, Bennacer, Kalulu, Tomori, Maignan, etc. Todos agora bem famosos e reconhecidos. Talvez nenhum mais que Rafael Leão, o melhor jogador do campeonato italiano 2021-2022.

O scudetto da temporada foi bem atípico. A começar pelo fato de chegar à última rodada ainda aberto. Outro ponto que alguns podem discordar é que, caso a Inter tivesse vencido, também seria justo. Não houve domínio massacrante de nenhuma parte ao longo do torneio. Aliás, se houve, foi no âmbito individual na figura de Rafael Leão.

O jogador português decidiu o jogo do título com três assistências (ao todo foram 10 na temporada, mas pouco importa). Isso sem falar contra a Atalanta, na rodada anterior. Isso sem falar nas apresentações mesmo na queda vergonhosa na Champions League, na última posição do grupo.

Leão parece ter tido como único obstáculo na temporada as lesões que o tiraram de campo por certo tempo. Nos gramados, contudo, as barreiras foram ignoradas praticamente na base do drible, da velocidade e do sorriso – marca registrada do atacante.

O “Rei Leão”, uma simples licença poética para definir o atleta que tem pouco de leão, é a terceira parte de uma tríade que o torcedor rossonero celebra muito o encaixe: Maldini, Leão e o próprio Milan. O primeiro capítulo foi escrito em 2019 e as benesses já tinham aparecido, mas agora se transformaram em fruto.

Aos rivais, o desejo pelo fim da tríade o quanto antes. Aos demais, que ela seja perene.







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