Os últimos anos não foram um desastre, mas causaram certo dano ao Napoli. Em 2019-2020, o torcedor celebrou a conquista da Copa Itália e voltou a sorrir depois daqueles anos seguidos de perseguição à Juventus na luta pelo scudetto, sempre sem sucesso no desfecho da temporada.
O tempo passou, a geração de Hamsik, Mertens, Insigne, Koulibaly se desfez, mas os partenopei voltaram a celebrar – se é que um dia deixaram. Tanto que, pausando a publicação deste artigo por um instante para checar a tabela da Serie A 2022-2023, o Napoli aparece no topo, com 10 pontos de diferença para o vice e ainda vem de um 5×1 pra cima da Juve.
Pois bem, em 19 de agosto de 2021, eu mesmo noticiava aqui no Golazzo o fechamento de contrato entre o clube e uma empresa chamada EA7. O nome não dizia muita coisa, mas uma rápida investigação revelou ser a marca esportiva de Giorgio Armani – sim, a grife de perfumes, roupas, acessórios, entre outras coisas.
Nem é preciso reafirmar que a expectativa foi grande, e não apenas por parte dos napolitanos. Afinal, os entusiastas da expressão “jogar de terno” tinham um script pronto para destilar piadas, análises, etc. A “estreia”, no entanto, não inspirou grande coisa. O primeiro uniforme foi apresentado por Di Lorenzo, Osimhen e Insigne sem grande alarde, numa disposição de cores absolutamente ordinária. Relembre:
O real problema acabou sendo a sequência, que não teve nada de ordinário. Em um intervalo de (literalmente) meses, a Armani empilhou versões alternativas de camisas do Napoli. Essa ação, de criar e lançar edições número 3 e até 4 dos uniformes, está longe de ser algo novo. Porém, sobretudo no futebol italiano, nenhum outro clube pisou tanto no acelerador nesse quesito.
Ficou mesmo parecendo que a diretoria destacou todas as datas comemorativas do calendário e decidiu produzir camisas especiais para cada um delas – sempre em “edição limitada”. Uma dessas ações até começou bem, com homenagem póstuma a Maradona. Todavia, o Napoli acabou entrando num ritmo tresloucado e chegou a lançar mais de 10 itens distintos. Um claro exagero. Ora, se você lança 10 camisas especiais, elas deixam de ser especiais.
A crítica vai além. Se tratando de Armani, a expectativa sempre foi pela produção de materiais divergentes daqueles que as fornecedoras mais consagradas entregam normalmente. Até algo mais disruptivo e feio – por que não? Mas não. Na “celebração” de Natal, Halloween e agora no Dia dos Namorados, a EA7 preparou materiais absolutamente preguiçosos. A impressão é que buscaram os elementos mais óbvios no Google (o morcego, no Halloween, as renas, no Natal e a marca de um beijo, no Dia dos Namorados) e os incorporaram de maneira despreocupada. A fabricação de camisas ficou no mesmo nível de uma apresentação no PowerPoint.
A pior parte é a tentativa de atrelar as camisas a campanhas solidárias, nas quais os valores arrecadados são direcionados para instituições de caridade. O fator “edição limitada” não ajuda em nada. Aliás, só piora. É bem provável que muito torcedor veja o anúncio de “edição limitada” e pense “ainda bem”.
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Jornalista e admirador de quase tudo que venha da Itália – especialmente gols e comida. Jamais identificado com a cobertura do campeonato italiano, fundou o Golazzo para noticiar, entrevistar e opinar sobre o calcio.